21 enero 2012

Una canción, Géni e o Zepelim, de Chico Buarque

Una canción..., Geni e o Zepelim (de Chico Buarque)
El 2010, entre otras cosas, me trajo un gran regalo, el poder conocer, sólo un poquito (sigo en el proceso) un país que no deja de sorprenderme: Brasil. Y junto con sus paisajes, playas, luz, colores, olores, gastronomía y gentes..., además de la observación de cerca del apasionante proceso político que están viviendo por allí, me traje de vuelta el interés por un idioma y sobretodo, una cultura, que sigo escudriñando cada día a través de mis amigos, libros y canciones.


Probado en 2010... en 2011 tenía que repetir, demasiado bueno para dejar escapar, si se tiene la oportunidad. Además del disfrute personal, viajar a Brasil en 2011, concretamente a Recife, el nordeste, me permitió ahora sí, al recordar calles y barrios y sobretodo contrastes, Casa Amarela, Boa Viagem, Olinda, Gravatá... el cambio. El cambio constante, la actividad, cuántas cosas están pasando... cuánto se está construyendo y haciendo (qué diferencia con esto “de por aquí”...). A eso observación, ese aprendizaje “hacia afuera”, gracias a la música, pude acompañar el aprendizaje “hacia adentro” y con la música de Chico Buarque, que tanto me ayuda en mis progresos para dejar atrás el “portuñol” y llegar al portugués, una canción que dice mucho de cómo somos, lamentablemente. Una canción de aprendizaje “hacia adentro”, que es tan dificultoso, o más, que el aprendizaje de “lo de fuera”..., porque es difícil conocerse y, a veces, no grato.
(En la foto, Olinda)

Geni e o Zepelim, de Chico Buarque, muestra una cara que no nos gusta de nosotros mismos, de cómo podemos llegar a ser y cómo a veces, lamentablemente, somos:

Geni e o Zepelim (Chico Buarque)

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada.
O seu corpo é dos errantes,
Dos cegos, dos retirantes;
É de quem não tem mais nada.
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina,
Atrás do tanque, no mato.
É a rainha dos detentos,
Das loucas, dos lazarentos,
Dos moleques do internato.
E também vai amiúde
Co'os os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir.
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir:

"Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!"

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante,
Um enorme zepelim.
Pairou sobre os edifícios,
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim.
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia,
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de idéia!
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniqüidade,
Resolvi tudo explodir,
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir".

Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar;
Ela é boa de cuspir;
Ela dá pra qualquer um;
Maldita Geni!

Mas de fato, logo ela,
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro.
O guerreiro tão vistoso,
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro.
Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela),
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre,
Tão cheirando a brilho e a cobre,
Preferia amar com os bichos.
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão:
O prefeito de joelhos,
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão.

Vai com ele, vai Geni!
Vai com ele, vai Geni!
Você pode nos salvar!
Você vai nos redimir!
Você dá pra qualquer um!
Bendita Geni!

Foram tantos os pedidos,
Tão sinceros, tão sentidos,
Que ela dominou seu asco.
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco.
Ele fez tanta sujeira,
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado.
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir,
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir:

"Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

No hay comentarios: